Arte e Espiritismo

A Arte Espírita e a Arte Mediúnica


Quando se fala em Arte Espírita, muita gente faz confusão com Arte Mediúnica o que é um grande engano. Nem toda Arte espírita é, precisamente, Arte mediúnica, como nem toda Arte Mediúnica é, obrigatoriamente, Arte Espírita.
São dois tipos de Arte bem definidos, muito embora, seja perfeitamente possível a existência de Arte Espírita de cunho mediúnico, bem como, uma Arte Mediúnica que não traga no seu bojo a idéia essencialmente espírita.
Mas, para que possamos diluir esta confusão, procuraremos, primeiro conceituar, o que não é tão simples, já que conceituar é delimitar o que seja Arte Espírita e o que seja Arte Mediúnica e, é uma coisa paradoxal delimitar o infinito que é a Arte, mas para que possamos nos sintonizar com esses dois universos, para facilitar o entendimento, vamos nos arvorar nesse exercício.
Por Arte Espírita, entendemos ser a atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, cujo resultado, evoca de forma direta e/ou indireta o pensamento e toda a realidade do universo espiritual revelada pela Doutrina Espírita.
Já por Arte Mediúnica, entendemos ser a materialização deste fazer artístico, de construções estéticas, por parte de artistas desencarnados, isto é, mortos, para este mundo físico, transmitidas, para esta dimensão, através da diversas faculdades psíquicas de um médium. Seja através da psicofonia, (comunicação em que o Espírito utiliza-se do aparelho fonador do médium) da psicografia (comunicação em que o Espírito usa a mão do médium para escrever), psicopictografia (manifestação de um espírito pintor para trazer telas e quadros), etc., ou qualquer fazer artístico vindo por meio das faculdades mediúnicas independentemente se revela ou não o conceito de mundo espírita.
Um dos exemplos que citamos para organizar nosso pensamento é o do extraordinário livro “Parnaso de Além Túmulo”, onde inúmeros poetas renomados trouxeram sua verve através da pena mediúnica do excepcional médium Francisco C. Xavier, corroborando com os preceitos da Doutrina Espírita visto, considerar que todos os poemas são concernentes com os fundamentos basilares do Espiritismo.
E o mais impressionante é que muitos daqueles poemas foram, àquela época, submetidos aos maiores especialistas em literatura, do Brasil, os quais corroboraram e comprovaram a autoria de cada um deles. Neste caso, a Arte Mediúnica é também considerada Arte Espírita, pela essência mesma dos poemas recebidos.
Além de outros grandes médiuns que vamos suprimir nomes para não nos estendermos demasiadamente na exemplificação.
Porém, existem médiuns, cuja arte, por não ter vínculos nem compromissos com os preceitos espíritas, produzem a Arte Mediúnica; todavia, tal fazer artístico não representam a Arte Espírita.
Não temos, aqui, a intenção de diminuir a Arte Mediúnica. Não é o nosso intento. Apenas queremos separar as duas formas do fazer artístico e desfazendo o mito de que a Arte Mediúnica seja superior à Arte não mediúnica, coisa muito comum no meio espírita.
O próprio codificador, Allan Kardec, é de acordo com nosso pensamento, pois o mestre lionês assim se exprimiu na Revista Espírita, 1860, Editora Edicel, página 386: “[...] o Espiritismo abre para a Arte um campo novo, imenso e ainda não explorado. E quando o artista trabalhar com convicção, como trabalhavam os artistas cristãos, colherá nessa fonte as mais sublimes inspirações.”
“Quando dizemos que a Arte espírita será um dia uma Arte nova, queremos dizer que as idéias e as crenças espíritas darão às produções do gênio um cunho particular, como ocorreu com as idéias e crenças cristãs...
E conclui o Codificador: “... Tempo virá em que elas (as idéias espíritas) farão surgir obras magistrais, e a Arte espírita terá os seus Rafael e seus Miguel Ângelo (SIC), como a Arte pagã teve seus Apeles e os seus Fídias.”
Além disso, este fazer artístico, denominado de Arte Mediúnica, sempre existiu, já que os artistas, desde os primórdios da existência humana na Terra, sempre foram, em realidade, grandes médiuns, homens e mulheres com tal sensibilidade que viajavam por paisagens de vivências anteriores, em visitas a lugares de belezas indescritíveis, intuição e inspiração perfeita, etc., e transformavam tais vivências em tela e poemas e canções.
Encontramos tais observações em O Livro dos Médiuns, item 183, em que Kardec pergunta: “ Um autor, um pintor, um músico, por exemplo, poderiam, nos momentos de inspiração, ser considerados médiuns? Sim, respondem os Espíritos, porquanto, nesses momentos, a alma se lhes torna mais livre e como que desprendida da matéria, recobra uma parte das faculdades de Espírito e recebe mais facilmente as comunicações dos outros espíritos que a inspiram.”
E diante da nova modalidade de Arte que via surgir à sua frente o Mestre lionês, embevecido por todas as verdades exaradas pelos fundamentos que o Espiritismo haveria de fazer nascer, quase que sugere aos novos artistas: “Que inesgotáveis fontes de inspiração para a Arte! Que obras-primas de todos os gêneros as novas idéias suscitarão, pela reprodução das cenas tão multiplicadas e várias da vida espírita! Em vez de representar despojos frios e inanimados, ver-se-á uma mãe tendo ao lado a filha querida em sua forma radiosa e etérea; a vítima a perdoar seu algoz; o criminoso a fugir em vão ao espetáculo, de contínuo renascente, de suas ações culposas! O insulamento do egoísta e do orgulhoso, em meio da multidão; a perturbação do Espírito que volve à vida espiritual, etc., etc. E, se o artista quiser elevar-se acima da esfera terrestre, aos mundos superiores, verdadeiros Edens onde Espíritos adiantados gozam da felicidade que conquistaram, ou, se desejar reproduzir alguns aspectos dos mundos inferiores, verdadeiros infernos onde reinam soberanamente as paixões, que cenas emocionantes, que quadros palpitantes de interesse se lhe depararão!” (Allan Kardec, Livro: “Obras Póstumas” 21a. edição, pág. 159, Editora FEB)
É este conceito o fazer artístico denominado de Arte espírita, que tem, na sua essência, a busca de expressar e digerir os fundamentos básicos do Espiritismo como sejam: a existência de Deus e do Espírito, a preexistência e a sobrevivência deste mesmo Espírito à morte, a reencarnação, a comunicabilidade dos considerados mortos, a lei de causa e efeito, a evolução, enfim, há toda uma concepção de mundo espírita na sua expressão.
E, sem nenhuma dúvida, junto àqueles que emprestam seu tempo para difundir esta Arte, há grupos de Espíritos dedicados no seu desenvolvimento, sem que este seja, obrigatoriamente médium. Apenas recebe um direcionamento pela inspiração para desdobrar-se no fazer pela transpiração.
Portanto, nem toda Arte Espírita é, necessariamente, Arte Mediúnica e, nem toda Arte Mediúnica é, precisamente, Arte Espírita.


Fonte: artigo de Merlânio Maia para a Rede Brasil Espírita.